terça-feira, 29 de junho de 2010

O dia em que meus problemas encolheram

Quem me conhece sabe que eu não sou uma pessoa das mais otimistas, mas também não sou aquele que permanentemente tem uma nuvem cinzenta pairando sob a cabeça, enxergando somente os aspectos negativos das coisas e esperando pela maldade e malícia do mundo. Não mesmo. Para tudo, eu tento enxergar os prós e os contras das situações e ponderar sob o que pode sair errado ou as consequências de cada ação, e, me desculpe, isto não é ser pessimista, é ter os pés no chão. Só que, vamos admitir, aos 20 e poucos anos a maioria das coisas não funciona como queremos, então, uma hora ou outra eu me pegava reclamando da vida. Ah, a falta de tempo! Ah, os horários esdruxúlos! Ah, os amores não correspondidos! Ah, o cartão! Ah, os colegas escrotos! Ah, -insira aqui a reclamação do dia-! E tudo ia muito bem(?), num misto de conformismo e inconformação, até que no Ambulatório de Genética, eu conheci um paciente de nove anos, com uma doença genética grave, deformante, com prognóstico reservado, que provavelmente não viveria até completar seus 11, talvez com muita sorte, 12 anos. Só que ele tinha uma alegria contagiante, uma energia tão boa, daquelas que só as crianças ainda são capazes de preservar que me deixou meio desconcertado: como eu tinha coragem de reclamar da vida? Quais eram os meus problemas mesmo?! Geralmente, saber que existem pessoas em situações bem piores que a nossa costumava me deixar ainda mais pensativo e triste, afinal, por que viver em um mundo com tanto sofrimento, dor, miséria, um mundo que permite que crianças (e adultos) morram das mais variáveis e tristes maneiras? Só que com o tempo a gente começa a ver as coisas menos pela nossa visão de mundo e entende que outras formas de pensar e enxergar são possíveis, passamos a ver o mundo de uma forma menos egoísta. E egocêntrica. Estava claro que sim, quando se é criança, você realmente não tem muita noção do quê está acontecendo a sua volta, mas a cada tempo, sua compreensão, ele tinha certeza que algo nele é diferente: ele não vai à escola como os demais meninos da sua idade, ele não pode correr ou jogar bola na rua, ele ganha feridas em todo o corpo toda vez que encosta em qualquer lugar com mais força... Na sua compreensão, ele, sim, tem problemas, mas eles não são suficientes para impedi-lo de continuar tentando, sorrindo, fazendo piada e, enfim, vivendo... Eu jamais irei compreender o padrão aleatório no qual o Destino, Deus ou a Vida inflige tragédias pessoais ou populacionais (terremotos, inundações e desabamentos estão aí para provar), mas passo a suspeitar que a cada pessoa está designada uma carga, um peso (afinal, a vida é assim...), e cabe a nós mesmos decidirmos se pudemos ou não suporta-la, sozinho ou acompanhados, reclamando ou não. Foi aí que decidi que não devo ficar reclamando, são assim que as coisas são ou funcionam e reclamar, só por reclamar, realmente não irá modifica-las. Se estou achando ruim cabe a mim, e somente a mim, tentar modificar aquela situação. O resultado, bem, pode ser que não surta efeito nenhum, que tudo continue do jeito que está, mas pelo menos a sensação de ter tentado fazer diferente será melhor do que só reclamar... E reclamar... E reclamar... E reclamar...

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