domingo, 25 de julho de 2010

A longa e interminável espera de dois segundos

Que tipo mágica você fez para que tudo ao meu redor só tenha sentido quando está relacionado a você? O que fazer quando os dias parecem se repetir? O que fazer quando as horas parecem um amontoado de situações desconexas e desinteressantes? O que fazer quando o mundo parece ser uma gradação infinita de tons de cinza? No meu caso, eu espero. Espero que um dia, em meio à tanta confusão, a gente tenha um tempo para sentar e conversar, e todo esse ruído da cidade ao nosso redor se aquiete por dois segundos (e esse será o tempo suficiente). Espero que nossos olhos se cruzem, e eu possa ver através da sua retina, por rápidos dois segundos (tempo mais que necessário) que valeu à pena toda essa espera e antecipação. Espero que eu possa ouvir o som tímido do seu sorriso, tão perto do meu, que nossas gargalhadas se confundirão, e em outros dois segundos, a terra se abrirá para dela emergir uma árvore muito antiga e frondosa, brotando em meio ao cimento e ao caos, só para registrar que o improvável pode, sim, surgir do cotidiano cinzento. Como um acidente da natureza, ninguém saberá o que aconteceu ali, aquela árvore em meio ao nada, apenas nós. Mas parece mais fácil esperar na beira da praia que o mar vire um oceano de sal e solidão, ou esperar pelas cartas de um filho único mandado para a guerra ou até mesmo esperar por um trovão que venha atingir um campo aberto em um dia claro de sol. Quando isso irá acontecer? Ninguém saberá responder. Enquanto isso parece que tenho que me contentar com os dois segundos (não aqueles pelos quais espero, mas os minutos e horas em que rapidamente convivemos) nos quais você consegue trazer alguma cor para as repetitivas situações desconexas e em escala de cinza que se tornou a vida sem você.

Trilha Sonora - Vol.3 - Julho '10

"...All my life I’ve tried to make everybody happy
While I just hurt and hide
Waiting for someone to tell me it’s my turn to decide
Who cares if you disagree?
You are not me
Who made you king of anything?
So you dare tell me who to be?
Who died and made you king of anything?..."


Sara Bareilles é uma das minhas cantoras favoritas. Ouvir "Gravity" no último volume sempre me arrepia, mas não sei porque cargas d'água ela (e muitos outros artistas que eu adoro) andavam meio sumidos da minha playlist. Ouvir seu novo single, "King of Anything", que parte da letra (fantástica!) está transcrita acima, foi o bastante para que eu lembre a razão de gostar tanto de suas composições: melodia assobiável, letras espertas que sempre consigo relacionar comigo mesmo e uma vontade imensa de repetir a música 15 vezes, por isso ela abre a trilha de julho, junto com inúmeras outras cantoras que eu estou escutando, em uma seleção só com vozes femininas. Tem a própria Sara Bareilles, Marina & The Diamonds (que merece um post especial, por ser minha última obsessão), Kate Nash, Ellie Goulding e muito mais. Mais uma vez é só clicar com o botão esquerdo e então em "Salvar Destino Como", em exceção ao link de "King of Anything", que abre para uma página de download, mas ainda assim vale muito à pena. Espero que gostem!

Confissões de Domingo

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Epidemia de Insatisfação (a.k.a. Crise do Quarto de Vida)

Tá bom, eu bem que tentei minimizar as coisas, tentei fingir que os problemas aparentam ser maiores do que realmente são (e na verdade, são), mas não dá para negar que algo está muito errado. E não é só comigo, é algo que observo com meus amigos mais próximos e no meu círculo de convivência como se fosse uma epidemia de insatisfação. Tal como a cegueira branca de Saramago, a insatisfação com a vida atual toma a visão do infectado, geralmente jovem, e a partir daquele momento, este começa a enxergar tudo em comparação ao que ele esperava ou imaginava ser, é quando aparece a decepção... Não temos os empregos dos sonhos, não somos recompensados ou reconhecidos, apesar de toda preparação acadêmica. Os amigos começam a escassear, você se decepciona com alguns, se surpreende com outros, mas descobre que no final das contas você só pode contar com você mesmo, nos seus melhores dias. Você se distancia da sua família, fisica e psicologicamente, você deixa de ser o filho-de-num-sei-quem e tenta buscar quem é você realmente. Você não consegue engatar três encontros consecutivos com a mesma pessoa, embora ninguém saiba explicar a razão para isso. As horas de um dia não são suficientes para as atividades que temos: acordar-café-trânsito-faculdade/trabalho-almoço-faculdade/trabalho-trânsito-casa-estudo, sem contar o tempo necessário para a academia, pois além de tudo temos a obrigação de sermos saudáveis e adoramos assistir as notícias enquanto corremos na esteira. É a metáfora do homem atual, sempre correndo, mas nunca chegando a lugar nenhum. Durante o dia você experimenta mais emoções que criança em uma loja de sorvetes: tédio, cansaço, alegria, contentamento, fome, raiva, novamente tédio, tédio, tédio, raiva, esperança e cansaço, até chegar às oito horas da noite e você ficar com um nó na garganta ao abrir a geladeira e perceber que você tem que esquentar a sua janta para uma pessoa só. As tecnologias nos fascinam até o ponto de não sabermos como seria a vida se não possuírmos um iPad, ou qualquer outra parafernália fadada a estar obsoleta daqui à um ano, para alimentar os números escandalosos de uma indústria faminta por consumidores ávidos. A tão sonhada independência (principalmente, a financeira) parece tardar a chegar, e quando chega nunca dará conta dos superflúos que precisamos ter para ocupar o tempo (já escasso) da nossa existência vazia. Por quê, por mais que tentemos nos enganar, não há nada mais a ser feito: a juventude romântica já revirou as tumbas de cemitérios para mostrar que a boêmia, os amores impossíveis e a tuberculose deveriam ter ficado nos idos de 1700; os modernistas criaram a nova arte brasileira, mas foram calados pelas Grandes Guerras e pela tensão criada pela Guerra Fria; em outros tempos já pintaram a cara para depor uma ditadura para hoje termos um governo de esquerda que só se elegeu quando contratou um marqueteiro e fantasiou seu candidato com ternos Ricardo Almeida. Hoje temos internet, celular, 900 amigos numa rede de relacionamentos que sequer conhecemos 15% destes, uma pegada humana na Lua e um presidente negro na Casa Branca. O que há mais a ser conquistado? Hollywood nos enganou. Não existe hospital no mundo que tenha Katherine Heigl e Ellen Pompeo como internas. Os crimes, cada vez mais próximos da barbárie e da nossa moradia, não são desvendados pela equipe do C.S.I., no mundo real ainda existe a impunidade. Não existe um episódio de Law & Order que mostre como é bacana ficar 8 horas esperando um carimbo no fórum. Deve ser por isso que fomos tão facilmente infectados pelo germe da insatisfação e da decepção, esperamos demais. O bom de tudo isso é que um dia passa (eu espero): formaturas acontecem, empregos se consolidam, promoções chegam e enquanto isso acontece, você amadurece. Aí, você já estará estabilizado, carro do ano e prestações do imóvel para vencer, então é hora de trocar de crise, pois aí, meu caro, você está envelhecendo...
(Tudo bem que a wikipedia não é lá uma fonte muito confiável, mas a "Quarter-Life Crisis" existe mesmo!)