domingo, 2 de maio de 2010

A Terra Arrasada

O Sol se cansou de brilhar sobre as nossas cabeças vazias, e embora ele ainda esteja lá em cima, seu brilho, que antes era forte e caloroso, hoje brilha timidamente e não nos esquenta, só nos lembra de que os tempos já foram melhores. Toda a ciência resultou inútil. Toda teoria não soube explicar. Todo poeta suspirou e lamentou vagamente sobre o estado de anestesia que nos encontramos. Toda pessoa sentiu no peito o aperto que se sente quando nos deparamos com o desconhecido. E, ainda assim, nada surtiu efeito. A bandeira branca da paz hoje, trêmula e corada de amarelo-vergonha, reflete o mesmo amarelo dos sorrisos cansados que ainda insistem em aparecer quando vemos os pássaros voarem descoordenados em busca de um norte há muito tempo perdido. A clarividência, quiromancia e toda a sorte de mecanismos de prever o imprevisível nos abandonou. Será que não vimos que iríamos acabar desta maneira? Pobres de espírito, cegos, isolados, famintos e em busca de ideais inatingíveis. Somos tão diferentes agora de quando estávamos na nossa "Época de Ouro"? O mundo ruiu aos poucos e em frente a nossos olhos e nada poderíamos fazer. Nunca podemos fazer nada. Ruiu como as pedras no litoral, pouco a pouco, se transformando em grãos de areia. Ruiu como a nossa dignidade, pouco a pouco, deixada de lado na corrida desenfreada pelo melhor. Agora o que se ouve é o eco de uma vida selvagem lá fora e o ressoar de tudo que poderíamos ser ou fazer. Novamente inútil. Este é o último dos dias. E só o que podemos fazer é esperar. Esperar como quem espera um trem. Esperar como quem espera a visita de um amigo que há muito tempo não vê. Como quem espera um soro cair, gota a gota. Embora se saiba o desfecho final, nada pode prever o que irá acontecer dali para frente. Não há esperança. Não há saída. Não há amanhã. Este é o último dos dias.
Foto: Nagazaki após a queda da Bomba Nuclear
*Post inspirado no filme "A Estrada" de John Hillcoat, baseado no livro homônimo de Cormac MacCarthy. Uma ótima reflexão para os dias atuais e que de certa forma inspirou o título deste blog.

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